Esta frase proferida na Assembleia Pré-Sinodal em 2022 parece ser um claro sinal de que o povo de Deus na diocese do Porto quer mesmo ser escutado pelo bispo, tal como pediu D. Manuel Linda no Santuário de Fátima.

Por Rui Saraiva

A Peregrinação Jubilar ao Santuário de Fátima do passado dia 20 de setembro foi um momento muito marcante para a vivência deste Ano Santo de 2025 na diocese do Porto. Recordemos que num total de mais de 19 mil inscrições, estiveram presentes 166 presbíteros, 52 diáconos, 734 acólitos e 171 doentes e frágeis.

Mas, a grande surpresa da peregrinação a Fátima foi a participação de muitos outros milhares de diocesanos que peregrinaram sem inscrição. Segundo os serviços do Santuário de Fátima estavam na Missa presidida pelo bispo do Porto, globalmente, mais de 70 mil peregrinos. De sublinhar que, para além da diocese do Porto, estavam inscritos no Santuário outros poucos grupos de peregrinos e com um número reduzido de participantes.

Na homilia da Missa, todos os peregrinos, sobretudo os do Porto, ouviram bem a sugestão de D. Manuel Linda dirigida aos diocesanos do Porto: “Está na hora de convocar um Sínodo Diocesano”. E também ficou bem memorizado por todos o seu pedido para que os diocesanos façam chegar ao bispo do Porto “o sentir das pessoas” sobre a possibilidade da organização de um Sínodo diocesano.

“Gostava muito de, nos próximos meses, ter eco, receber o sentir das pessoas e organismos”, apelou D. Manuel Linda em Fátima a propósito da organização de um Sínodo na diocese do Porto.

Escuta e encontro

Foi todo este povo de Deus, estas pessoas a quem apelou o bispo do Porto, que se pronunciou durante o processo de consulta do Sínodo iniciado pelo Papa Francisco em outubro de 2021.

No relatório publicado pela Comissão Sinodal do Porto em junho de 2022 participaram 194 paróquias, das 477 da diocese. O documento incluiu também na sua redação 30 contributos de comunidades de vida consagrada, de movimentos e outros grupos.

Estes números foram apresentados com a seguinte distribuição: 20 grupos de paróquias, num total de 84 paróquias; 110 paróquias individuais; 33 respostas de congregações religiosas, movimentos e obras, institutos, secretariados e escolas e 18 grupos paroquiais. Foram recebidas 517 respostas ao questionário de resposta pessoal.

Partilhar a experiência sinodal vivida na fase de consulta na diocese do Porto no Sínodo sobre a sinodalidade foi o principal desafio da Assembleia Diocesana Pré-Sinodal que decorreu no sábado 14 de maio de 2022 na Casa Diocesana de Vilar.

A ideia geral que ficou deste encontro, a partir dos testemunhos partilhados, foi que existe na diocese do Porto uma concreta vontade de continuar o processo sinodal. Algo que vai mesmo de encontro aquele que foi o apelo de D. Manuel Linda em Fátima no passado sábado 20 de setembro quando disse aos diocesanos para lhe fazerem chegar o seu discernimento.

Processo sinodal é sinal de esperança

Nesta Assembleia de maio de 2022, na presença do bispo do Porto, D. Manuel Linda, estiveram reunidos mais de duas centenas de diocesanos, representantes de paróquias, de congregações, grupos e movimentos.

A Assembleia Pré-Sinodal foi organizada pela Comissão Sinodal do Porto e teve como principal objetivo dar voz às pessoas que participaram nos encontros sinodais paroquiais e outras formas de encontro. As intervenções de todos esses grupos foram o grande momento de uma tarde que começou com uma oração e cânticos de Taizé.

O processo sinodal visto como um forte sinal de esperança e uma porta aberta pela Igreja foi uma das ideias que marcou os testemunhos apresentados. “O processo só agora começou” – ouviu-se na sala durante uma das intervenções.

Esta frase proferida na Assembleia Pré-Sinodal em 2022 parece ser um claro sinal de que o povo de Deus na diocese do Porto quer mesmo ser escutado pelo bispo, tal como pediu D. Manuel Linda no Santuário de Fátima.

De destacar que em algumas zonas da diocese do Porto, durante a fase de consulta, houve paróquias que conseguiram alargar o processo sinodal ao âmbito civil, incluindo instituições e organizações várias no conjunto de participações.

Sinodalidade que se torna mentalidade

O dinamismo que o espírito sinodal imprime a uma comunidade, leva-a a mudar processos e a converter vínculos entre as pessoas. No fundo, tal como referiu o Papa Leão XIV a sinodalidade torna-se uma mentalidade.

O Santo Padre falando aos bispos italianos no dia 17 de junho, exortou-os a uma verdadeira mentalidade sinodal: “Que a sinodalidade se torne uma mentalidade, no coração, nos processos de tomada de decisões e nos modos de agir”, disse o Papa.

“Olhem para o amanhã com serenidade e não tenham medo de escolhas corajosas”, declarou o Papa Leão XIV na ocasião.

Escolhas corajosas que são “estar próximos das pessoas”, “compartilhar a vida”, “caminhar com os últimos” e “servir os pobres”, sublinhou o Papa.

Leão XIV pediu aos bispos italianos para permanecerem unidos e abertos às “provocações do Espírito”, dizendo para não se defenderem dessas provocações. No fundo, para não terem uma atitude de recusa àquilo que é novo, mas de abertura.

E não esqueçamos o que disse o Santo Padre na passada Vigília de Pentecostes, de dia 7 de junho, afirmando que a sinodalidade é o nome eclesial para a consciência de que Deus criou o mundo para estarmos juntos. Um caminho “fora do qual tudo murcha”.

“Deus criou o mundo para que pudéssemos estar juntos. ‘Sinodalidade’ é o nome eclesial desta consciência. É o caminho que exige que cada um reconheça a sua dívida e o seu tesouro, sentindo-se parte de um todo, fora do qual tudo murcha, mesmo o mais original dos carismas”, afirmou o Papa Leão.

O desafio de conjugar dinâmicas sinodais

E na diocese do Porto, o desafio poderá vir a ser duplo, após esta possibilidade da organização de um Sínodo Diocesano, afirmada por D. Manuel Linda na sua homilia em Fátima.

Será preciso conjugar a dinâmica de implementação do Documento Final do Sínodo que dura até 2028 e a organização de um Sínodo na diocese do Porto.

A isto se referiu o coordenador da Comissão Sinodal Diocesana do Porto, em declarações ao jornal digital 7Margens, reagindo “com satisfação” ao anúncio de D. Manuel Linda em Fátima.

Segundo o padre Joaquim Santos, será importante fazer agora “a conjugação das duas dinâmicas, a que decorre do processo sinodal da Igreja universal e o Sínodo” diocesano.

Para o efeito, o coordenador informa que está marcada para breve uma reunião em modo de “plataforma alargada” para refletir sobre o processo sinodal.

Desta forma, tomando como referência o documento publicado pela Secretaria Geral do Sínodo em julho com o título “Pistas para a fase de implementação do Sínodo”, devemos sublinhar que o mais importante nesta fase é o de passar pela experiência sinodal.

Logo no primeiro ponto do documento é sublinhado que “crescer como Igreja sinodal exige um saber que se aprende só através da experiência e nos abre uma via para o encontro com o Senhor”.

No caso da diocese do Porto, aproveitando o caminho já feito pela Comissão Sinodal, poderá ser uma oportunidade envolver, numa primeira fase, os grupos e dinâmicas sinodais criadas durante a fase de consulta.

Um calendário global que pode ajudar a diocese do Porto

E para não perder a ligação essencial ao processo de implementação global do Documento Final do Sínodo, as datas do calendário podem até ajudar na dinamização de um processo sinodal na diocese do Porto.

Através do texto “Pistas para a fase de implementação do Sínodo” aprovado pelo Papa Leão XIV e publicado pela Secretaria Geral do Sínodo a 7 de julho, foi confirmado o percurso proposto pelo Papa Francisco no documento de 15 de março deste ano de 2025. Um caminho desenhado a partir das igrejas locais rumo a uma Assembleia Eclesial em outubro de 2028 em Roma.

São estas as etapas propostas:

  • entre junho de 2025 e dezembro de 2026: percursos de implementação nas Igrejas locais;
  • no primeiro semestre de 2027: Assembleias de avaliação nas dioceses;
  • no segundo semestre de 2027: Assembleias de avaliação nas conferências episcopais nacionais e internacionais, nas estruturas hierárquicas orientais e em outros agrupamentos de Igrejas;
  • no primeiro quadrimestre de 2028: Assembleias continentais de avaliação;
  • em outubro de 2028: celebração da Assembleia Eclesial no Vaticano.

Chegou o momento da implementação concreta das conclusões do Documento Final do Sínodo na vida da Igreja.

Com o Papa Leão XIV rumo à Assembleia Eclesial de 2028. E com um Sínodo na diocese do Porto?

Entrar em discernimento eclesial

O “método próprio de uma Igreja sinodal” é o “discernimento eclesial”, revelam as “Pistas para a fase de implementação do Sínodo” e foi o que pediu D. Manuel Linda em Fátima. Algo que deve começar pelo bispos e sacerdotes e ser proposto a todo o povo de Deus.

Este é o primeiro grande desafio da diocese do Porto: realizar um profundo processo de discernimento. O documento da Secretaria Geral do Sínodo recorda que “para a realização de um bom processo de discernimento, é fundamental uma definição clara dos objetivos, garantindo que sejam realistas e proporcionais em relação ao tempo disponível, aos espaços utilizáveis e ao número dos participantes envolvidos”.

O texto sublinha ainda que “é fundamental que cada participante chegue adequadamente preparado e que o contexto favoreça um clima de oração e disponibilidade interior para ouvir e dialogar”.

A este propósito, salienta a importância da figura do facilitador, assinalando que os processos sinodais devem “contar com formas adequadas de facilitação” que permitam aos participantes a concentração “nas questões sujeitas a discernimento”.

Neste âmbito, o documento indica a “Conversação no Espírito” como “um instrumento de encontro” e de “crescimento nas relações”, em particular, na “passagem do ‘eu’ para o ‘nós’”. O próprio DF, no seu número 45 destaca a importância da implementação do método da “Conversação no Espírito”.

Vamos conseguir?

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