Encontrar, escutar e discernir. Três verbos que são centrais no caminho sinodal que estamos a fazer com o Papa Francisco. Não conseguimos ainda alcançar qual vai ser o ponto de chegada. Mas sabemos quem faz connosco este caminho. Porque o Senhor “vem ao nosso encontro com o seu amor”
Por Sofia Salgado Pinto
Docente da Católica Porto Business School
O Papa Francisco convocou, no passado mês de outubro, todos os batizados, a iniciar um caminho sinodal que terminará em 2023. Não é a primeira vez que o faz. Mas este Sínodo reveste-se de contornos especiais. É um sínodo mais alargado na escuta do que os anteriores, i.e., é um caminho sinodal que prevê um tempo mais alargado e um envolvimento de uma base mais alargada de pessoas na fase inicial de escuta. E é um sínodo que tem como tema a sinodalidade, i.e., visa fazer caminho sobre a forma como a Igreja tem feito caminho (parecendo uma redundância, não o é). Haverá outras características específicas deste sínodo, mas estas justificam desde já uma grande atenção e também uma nova Esperança.
Poderei voltar em outros artigos ao tema deste sínodo e à Esperança que este caminho me traz. Hoje retenho-me nas palavras do Papa Francisco, na homilia de abertura do Sínodo sobre a sinodalidade, a 10 de outubro, na Basílica de S. Pedro (Apesar de incluir neste artigo algumas frases da homilia do Santo Padre, sugiro a leitura completa da mesma).
Diz-nos: ““Fazer sínodo significa caminhar pela mesma estrada, caminhar em conjunto.” E, a propósito da passagem do evangelho que nos relata o encontro com o jovem rico, prossegue a analisar três verbos: encontrar, escutar, discernir. Entendo que estes três verbos são centrais neste caminho sinodal.
Questiona-nos o Papa Francisco a todos: “E hoje, ao abrir este percurso sinodal, comecemos todos (Papa, bispos, sacerdotes, religiosas e religiosos, irmãs e irmãos leigos) por nos interrogar: nós, comunidade cristã, encarnamos o estilo de Deus, que caminha na história e partilha as vicissitudes da humanidade? Estamos prontos para a aventura ou caminho ou, temerosos face ao desconhecido, preferimos refugiar-nos nas desculpas “não adianta” ou “sempre se fez assim”?” A questão que nos coloca é, apesar de formulada de outra forma, a questão central do Sínodo: como estamos a fazer, a viver caminho em Igreja? E se queremos fazer este caminho do próprio sínodo ou se nos defendemos com o que conhecemos e conseguimos controlar.
Voltando aos três verbos. Encontrar. Quando iniciamos este caminho sinodal, temos de estar preparados e disponíveis para cada encontro. Começando pela oração e na adoração, continuemos na reserva de tempo para estar com o outro com quem nos vamos encontrar. Esse ou essa que quis também vir ao nosso encontro. Como nos diz o Papa Francisco, “cada encontro exige abertura, coragem, disponibilidade para se deixar interpelar pelo rosto e a história do outro. (…) o encontro muda-nos e muitas vezes sugere-nos novos caminhos que não pensávamos percorrer. (…) Com frequência é assim precisamente que Deus nos indica os caminhos a seguir, fazendo-nos sair dos nossos hábitos cansados. Muda tudo, quando somos capazes de encontros verdadeiros com Ele e entre nós (…).” Sendo cada um de nós promotor ou participante de uma reunião deste caminho sinodal, que saibamos estar de coração disponível e aberto ao outro e aos outros. Pois é também através dos outros que Deus vem até nós.
Escutar. “Como estamos quanto à escuta? Como está “o ouvido” do nosso coração?”, pede o Papa Francisco que nos interpelemos. E relembra que “o Espírito Santo sopra de modo sempre surpreendente para sugerir percursos e linguagens novos. (…) O Espírito pede para nos colocarmos à escuta das perguntas, das preocupações, esperanças de cada Igreja, de cada povo e nação; e também à escuta do mundo, dos desafios e das mudanças que o mesmo nos coloca.” É esta escuta que nos é solicitada neste sínodo. Temos disponíveis roteiros preparados para guiar os encontros sinodais, mas o mais importante é prepararmos, na oração, o nosso coração. Deixemos então espaço e tempo para a escuta dos outros.
Discernir. Queremos, de coração sincero, fazer saber ao Papa Francisco, como a Igreja se vê a fazer caminho de sinodalidade e como, neste caminho agora iniciado, se vê a continuar a crescer no caminho em conjunto. Vai ser bom valorizar o que fazemos e nem nos apercebemos. Vai ser bom reconhecer o que deverá ser novo ou diferente. O encontro e a escuta, na oração e com os outros, vão-nos inspirar. “O Sínodo é um caminho de discernimento espiritual, de discernimento eclesial, que se faz na adoração, na oração, em contacto com a Palavra de Deus.” Não é um ou outro guião que nos vai ditar uma resposta. Mas peçamos ao Espírito Santo que nos inspire o que reter e o que dizer a cada momento.
O Papa Francisco pôs-nos a caminho, em Igreja. Mas não num qualquer caminho sem rumo. Ele convida-nos a um caminho em conjunto, de encontro e encontros, e de escuta, de escuta recíproca. E nestes diversos encontros a graça nos interpelará e nos guiará. Não conseguimos ainda alcançar qual vai ser o ponto de chegada. Mas sabemos quem faz connosco este caminho. Não sabemos onde e quando sopra o Espírito! Mas sabemos que “enquanto procuramos o Senhor, é Ele quem primeiro vem ao nosso encontro com o seu amor.”
Que alegria é saber-me parte deste convite.
Que esperança é saber que este sínodo começou!