A Secretaria Geral do Sínodo divulgou indicações para os próximos meses. Recordemos que o mote para o trabalho a desenvolver, lançado pela Carta ao Povo de Deus, publicada no final da primeira sessão do Sínodo em Roma, pede um dinamismo de comunhão envolvendo todos. “Não tenhamos medo de responder”, diz a Carta.
Por Rui Saraiva
Na terça-feira 12 de dezembro a Secretaria Geral do Sínodo publicou indicações sobre os passos a dar nos meses que nos separam da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos bispos, que decorrerá em Roma no mês de outubro de 2024.
Corresponsabilidade, articulação, criatividade
Seguindo o espírito do tema do Sínodo “Por uma Igreja sinodal: comunhão participação e missão”, para as Igrejas locais e Conferências Episcopais é lançada uma pergunta orientadora para aprofundar a temática: como ser Igreja sinodal em missão?
Uma orientação à qual se juntam dois níveis de aprofundamento: primeiramente, ao nível de cada Igreja local propondo uma reflexão sobre como valorizar a corresponsabilidade diferenciada na missão de todos os membros do Povo de Deus. E depois, ao nível das relações entre Igrejas, entre grupos de Igrejas e com o bispo de Roma pensar em como articular criativamente estas relações para encontrar um equilíbrio dinâmico entre a dimensão da Igreja no seu conjunto e o seu enraizamento local.
As indicações da Secretaria Geral do Sínodo referem que “cada Igreja local é convidada a efetuar uma nova consulta, determinando as modalidades concretas com base no que parece possível no tempo disponível”.
Recordemos que o mote para o trabalho a desenvolver nos próximos meses, lançado pela Carta ao Povo de Deus, publicada no final da primeira sessão do Sínodo em Roma, no passado mês de outubro, pede um dinamismo de comunhão envolvendo todos.
Dinamismo de comunhão
“Gostaríamos que os meses que nos separam da segunda sessão, em outubro de 2024, permitam a todos participar concretamente no dinamismo de comunhão missionária indicado pela palavra sínodo”, explicita o texto.
“Não tenhamos medo de responder”, diz o texto referindo-se ao apelo do Papa Francisco em 2015 para o “reforço das sinergias” em todos os âmbitos da missão da Igreja.
Sobre a experiência sinodal vivida em Roma, os subscritores da Carta ao Povo de Deus, destacam terem vivido um “tempo abençoado em profunda comunhão com todos”.
Os participantes no Sínodo dirigem-se a todos os irmãos e irmãs após um período de quase quatro semanas de uma “bela e rica experiência”, como é descrita na Carta.
“Fomos sustentados pelas vossas orações, trazendo connosco as vossas expectativas, os vossos questionamentos, e também os vossos receios”, escrevem os participantes no Sínodo.
Escuta, discernimento, caminhar juntos
A Carta ao Povo de Deus recorda o “longo processo de escuta e discernimento” iniciado em outubro de 2021 que foi “aberto a todo o povo de Deus, sem excluir ninguém”. Um tempo para “caminhar juntos sob a guia do Espírito Santo”, como “discípulos missionários no seguimento de Jesus Cristo”.
“Foi uma experiência sem precedentes”, destacam os participantes na assembleia sinodal, sublinhando a especial participação de homens e mulheres. “Pela primeira vez, a convite do Papa Francisco, homens e mulheres foram convidados, em virtude do seu batismo, a sentarem-se à mesma mesa para participarem não só nos debates, mas também nas votações desta Assembleia do Sínodo dos Bispos”.
“Juntos, na complementaridade das nossas vocações, carismas e ministérios, escutámos intensamente a Palavra de Deus e a experiência dos outros. Utilizando o método do diálogo no Espírito, partilhámos humildemente as riquezas e as pobrezas das nossas comunidades em todos os continentes, procurando discernir aquilo que o Espírito Santo quer dizer à Igreja hoje. Assim, experimentámos também a importância de promover intercâmbios mútuos entre a tradição latina e as tradições do Oriente cristão. A participação de delegados fraternos de outras Igrejas e Comunidades eclesiais enriqueceu profundamente os nossos debates”, pode-se ler no texto.
O contexto mundial de crise marcou a reflexão dos membros da Assembleia, refere a Carta, salientando que na Assembleia sinodal foi dado “um importante espaço ao silêncio” para favorecer a escuta e o desejo de comunhão no Espírito.
Na Carta é dado relevo à “vigília ecuménica” que teve lugar na abertura dos trabalhos e que permitiu experimentar “o quanto a sede de unidade cresce na contemplação silenciosa de Cristo crucificado”.
“Dia após dia, sentimos um apelo premente à conversão pastoral e missionária. Com efeito, a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não se centrando em si mesma, mas pondo-se ao serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo”, pode-se ler no texto.
A Igreja precisa de escutar todos
“Para progredir no seu discernimento, a Igreja precisa absolutamente de escutar todos, a começar pelos mais pobres. Isto exige, da sua parte, um caminho de conversão, que é também um caminho de louvor”, escrevem os participantes da XVI Assembleia Ordinária do Sínodo dos bispos.
O texto da Carta ao Povo de Deus refere e importância de “escutar as pessoas que são vítimas do racismo”, “os povos indígenas cujas culturas foram desprezadas” e, em particular, “as “vítimas de abusos cometidos por membros do corpo eclesial”.
“A Igreja precisa de escutar os leigos, mulheres e homens, todos chamados à santidade em virtude da sua vocação batismal: o testemunho dos catequistas, que em muitas situações são os primeiros anunciadores do Evangelho; a simplicidade e a vivacidade das crianças, o entusiasmo dos jovens, as suas interrogações e as suas chamadas; os sonhos dos idosos, a sua sabedoria e a sua memória”, lê-se na Carta ao Povo de Deus.
Os participantes no Sínodo assinalam também a importância da “escuta das famílias, as suas preocupações educativas, o testemunho cristão que oferecem no mundo de hoje”.
Especial destaque na Carta ao Povo de Deus para a escuta dos “ministros ordenados: os sacerdotes, primeiros colaboradores dos bispos, cujo ministério sacramental é indispensável à vida de todo o corpo; os diáconos, que com o seu ministério significam a solicitude de toda a Igreja ao serviço dos mais vulneráveis”.
Nos próximos meses o Relatório de Síntese da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos bispos, apresenta-se como uma ferramenta de trabalho fundamental. Um documento que “recolhe as convergências, as questões a aprofundar e as propostas que surgiram do diálogo” desenvolvido na primeira sessão do Sínodo em Roma.