O Sínodo iniciado pelo Papa Francisco em outubro passado no Vaticano tem como tema: “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão”. Um Sínodo sobre a sinodalidade que se encontra agora na sua fase de consulta diocesana. Uma primeira fase que se concluirá em agosto de 2022, abrindo uma segunda fase continental que preparará a Assembleia dos bispos em outubro de 2023.
No Vademecum publicado pela Santa Sé, “um guia para apoiar os esforços de cada Igreja local”, como se pode ler no texto oficial, podemos encontrar o modo como o Papa Francisco vê a prática da sinodalidade no concreto.
Publicamos o texto que sublinha as “atitudes particulares que permitem uma escuta e um diálogo genuínos” para a “participação no Processo Sinodal”:
- Ser sinodal requer tempo para a partilha: Somos convidados a falar com coragem e honestidade autênticas (parrhesia) a fim de integrar a liberdade, a verdade e a caridade. Todos podem crescer em compreensão através do diálogo.
- A humildade de escutar deve corresponder à coragem de falar: Todos têm o direito de ser ouvidos, tal como todos têm o direito de falar. O diálogo sinodal depende da coragem tanto para falar como para escutar. Não se trata de entrar em debate para convencer os outros. Trata-se, antes, de acolher o que os outros dizem como um modo através do qual o Espírito Santo pode falar para o bem de todos (1Cor 12,7).
- O diálogo conduz-nos à novidade: Temos de estar dispostos a mudar as nossas opiniões com base no que ouvimos dos outros.
- Abertura à conversão e à mudança: Muitas vezes podemos oferecer resistência ao que o Espírito Santo está a tentar inspirar-nos a realizar. Somos chamados a abandonar atitudes de complacência e de conforto que nos levam a tomar decisões com base apenas na forma como se fazia no passado.
- Os Sínodos são um exercício eclesial de discernimento: O discernimento baseia-se na convicção de que Deus age no mundo e de que nós somos chamados a escutar o que o Espírito nos sugere.
- Somos sinais de uma Igreja que escuta e caminha: Ao escutar, a Igreja segue o exemplo do próprio Deus que escuta o grito do seu povo. O Processo Sinodal dá-nos a oportunidade de nos abrirmos à escuta de forma autêntica, sem recorrer a respostas prontas ou a julgamentos pré-formulados.
- Deixar para trás preconceitos e estereótipos: Podemos sentir o peso das nossas fraquezas e do nosso pecado. O primeiro passo para escutar é libertar a nossa mente e o nosso coração dos preconceitos e estereótipos que nos levam por caminhos errados, conduzindo-nos à ignorância e à divisão.
- Vencer o flagelo do clericalismo: A Igreja é o Corpo de Cristo, cheia de diferentes carismas, em que cada membro tem um papel único a desempenhar. Todos dependemos uns dos outros e todos temos a mesma dignidade no seio do Povo santo de Deus. À imagem de Cristo, o verdadeiro poder é o serviço. A sinodalidade exige que os pastores escutem atentamente o rebanho confiado aos seus cuidados, tal como requer que os leigos exprimam os seus pontos de vista com liberdade e honestidade. Todos se escutam uns aos outros por amor, num espírito de comunhão e da nossa missão comum. Desta forma, o poder do Espírito Santo manifesta-se de múltiplas maneiras em todo o Povo de Deus e através dele.
- Curar o vírus da autossuficiência: Estamos todos no mesmo barco. Juntos formamos o Corpo de Cristo. Pondo de lado a miragem da autossuficiência, podemos aprender uns com os outros, caminhar juntos e estar uns ao serviço dos outros. Podemos construir pontes mais que muros que por vezes ameaçam separar-nos: idade, sexo, riqueza, capacidade, educação, etc.
- Derrotar as ideologias: Devemos evitar o risco de dar mais importância às ideias do que à realidade da vida de fé que as pessoas vivem em concreto.
- Dar origem à esperança: Fazer o que está certo e é verdadeiro não tem por finalidade chamar a atenção ou fazer manchetes; o objetivo é ser fiel a Deus e servir o seu Povo. Somos chamados a ser faróis de esperança, não profetas da desgraça.
- Os Sínodos são um tempo para sonhar e “gastar tempo com o futuro”: Somos encorajados a criar um processo local que inspire as pessoas, sem excluir ninguém, a criar uma visão do futuro cheia da alegria do Evangelho. As seguintes disposições ajudarão os participantes (cf. Christus Vivit):
- Uma perspetiva inovadora: “Encontrar caminhos sempre novos com criatividade e audácia” (CV 203).
- Ser inclusivo: “Uma Igreja participativa e corresponsável, capaz de valorizar a riqueza da variedade que a compõe” (CV 206), abraça todos aqueles que, muitas vezes, esquecemos ou ignoramos.
- Uma mente aberta: Evitemos rótulos ideológicos e utilizemos todas as metodologias que tenham dado bons resultados (cf. CV 205).
- Ouvir todos e cada um: “Aprendendo uns com os outros, poderemos refletir melhor esse poliedro maravilhoso que deve ser a Igreja de Jesus Cristo” (CV 207).
- Uma compreensão de “caminhar juntos”: Percorrer o caminho que Deus chama a Igreja a fazer para o terceiro milénio.
- Compreender o conceito de uma Igreja corresponsável: Valorizar e envolver o papel e vocação únicos de cada membro do Corpo de Cristo, em ordem à renovação e à edificação de toda a Igreja (cf. CV 206-207).
- Aproximação através do diálogo ecuménico e inter-religioso: Sonhar juntos e caminhar uns com os outros através de toda a família humana (cf. CV 172; 235).
RS